Anexo
O criador do Universo (Deus-criador, Make Make) empunhando um ovo do qual saiu o Universo. Criador que, por seu turno está dentro de um suposto ovo (a pedra). Ovo que, por sua vez, reverbera (com) o outro ovo empunhado por Make Make. Fazendo com que o exterior e o interior se virem ambos do avesso. Numa reciprocidade que confere sentidos novos ao que habitualmente se entende por interior e exterior. Portanto, transformando-se, ou trans-mutando-se a tal ponto que não deixam, porém, de ser cada um o que é, mas de outra maneira. O próprio avesso desloca-se nessa volta. Ao modo de uma desfasagem. Dando um efeito espectral. Como quando se chama "fantasma" à imagem da televisão desfocada, cujas linhas delimitadoras se duplicam, ou se multiplicam.
Pois há um movimento no próprio movimento. Pelo que avesso é o direito de outro modo e vice-versa. Tal como o exterior é o interior de outro modo e vice-versa. Mas o avesso também se duplica. Surge então a própria dobra do avesso (duplicidade), o qual já por si é dobra (dúplice).
O espectro, o espectral revela-se como um índice do que virá a denominar-se mais tarde 'modelo' (o 'Paradeigma' em Platão).
Atenhamo-nos à duplicidade 'dobra-do-avesso' sem especular sobre a dobra, i.e., a duplicidade dessa mesma dobra. Então, a desfocagem que emerge como terceiro elemento imanente aos dois elementos em movimento da dobra-do-avesso, é o efeito espectral ou fantasmal (simulacro originário emergente) que, com o tempo, definindo-se enquanto tal na sua desfocagem, relevará, num processo de abstracção, enquanto "eidos". E virá tambem a chamar-se, mais abstractamente ainda, modelo ('paradeigma) . 'Paradeigma' fulcral, mas, segundo nos parece, insuficientemente pensado no seu processo milenar - anterior ao pensamento platónico - que o fez mais tarde, depois de Platão, tornar-se conceito (cunceptum, cum-capio...). Quer dizer que o eidos, o paradeigma (modelo), e ainda a Idea (Ideia) platónicos são - na sua estrutura temporal milenar que os antecede, mas os constitui ainda - qualquer coisa de simulacro, retrospectivamente. Portanto, neste caso, simulacro não no sentido que virá a ser instítuido como oposto mas passível de ser erradamente (segundo Platão) confundido com o "modelo" e com a "cópia" (eíkone). Assim como Platão desconhecia, ou antes, dava preferência ao sentido de "modelo" (paradeigma), "simulacro" (phanstama) e "cópia" (eikone) no seu tempo (Platão não sabia, p.ex. de Foz Côa, Altamira, Lascaux, etc.) também o sentido destes conceitos à luz dos nossos tempos sofreu modificações. Importa portanto, não tanto deixar de pensar esses termos, mas antes deixar de pensá-los (esses termos) exclusivamente nos termos em que eram pensados ao tempo de Platão. Posto que, tanto milenarmente antes de Platão como milenarmente depois dele e depois de nós, se abre um caminho que é preciso pensar.
Outubro/2010
Após estas felizes aventuras saltitonas, a obra ficara abandonada onde se iniciou a sua realização. Na garagem do IPJ. Depois, o seu destino foi o lixo. Resta, entre outras, uma boa referência no belo catálogo da bienal acima mencionado. Arte efémera? Porque não?
domingo, 28 de outubro de 2012
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