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quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Pedra-ovo*


Escultura (300/170cm+-) inspirada em pedra com homem-pássaro (Tangata Manu o Make-Make) achada na ilha de Páscoa.
Material utilizado: arame, rede de capoeira, lona, areia da praia, vários tipos de areia de construção civil, acrílico, pó de mármore, cimento branco, cimento escuro, cola (resina acrílica), água, etc. Utensílios: ramos, paus, piassabas, vassouras, pêlos de piaçá (piassaba), pincéis novos e velhos, mãos, dedos, panos, etc.
Medidas: 300x150x150 cm +-.
Na bienal Ambient-arte instalou-se no interior oco da escultura uma lâmpada laranja visível através de uma pequena fresta alguns orifícios.


Esta obra foi encomendada pela Dra. Manuela Costa, delegada do IPJ (Instituto Português de Juventude) em 2001 no âmbito de uma exposição sobre os vários Continentes do Globo na mesma instituição.

Algumas peripécias: realizada em três tardes e algumas horas de noite. Contou-se com a ajuda prestável de dois auxiliares (PE e XA) para as primeiras operações de montagem de redes e de telas do esqueleto da obra. XA tirou as fotos do processo criativo da obra.

Mais tarde, a escultura foi exposta na instalação intitulada "Elementa" (escultura-pintura-vídeo-objectos) no edifício do Banco de Portugal em Leiria (2002) na "Bienal Ambientarte" (Leiria, 2002). Foi a única obra exposta em interior, embora a Bienal consistisse em arte ao ar livre e pública. As razões desta opção deveram-se ao facto da obra ser considerada um tanto frágil ou vulnerável no caso de uma eventual intempérie. E como havia a disponibilidade do salão central do citado edifício optou-se por esse interessante espaço. Com música de fundo, em todo o espaço do edifício, do CD de John Zorn, Red Bird. Red Bird (Jim Pugliese, bass drums). Dark River (Carol Emanuel, harp; Jill Jaffee, viola; Erik Friedlander, cello; Jim Pugliese, percussion).

Título do vídeo: Rio. Camera Sony Handy cam ccd-tr 360e
Realização do vídeo: Luís Tavares
Assistência técnica de vídeo: António Mouzinho; IPJ.

Apoio logístico e colaboração:
Colectivo Perve Arte e Multimédia
Delegação Regional de Lisboa do IPJ
Câmara Municipal de Leiria
Edifício do Banco de Portugal (Leiria)

Instalação de Luís Tavares.

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Texto apresentado na instalação:


"Pedra-ovo"*

Uma abordagem possível da obra

Esta obra inspira-se num objecto arqueológico originário da ilha de Páscoa. Esse objecto é uma pedra na qual se encontra representada uma figura híbrida com formas humanas e de pássaro. Este símbolo remete-nos para o mito cosmogónico de carácter universal cujo sentido radica na imagem do ovo cósmico ou cosmogónico.
A obra em causa pretende reunir várias visões desse ovo ou 'pedra simbólica', as quais se manifestam na forma como foi realizada e interpretada.
Alguns elementos constituintes desta interpretação consistem precisamente no orgânico e no inorgânico, respectivamente na aparência que a escultura ganhou resultante da utilização de tecido, o qual em certas zonas da superfície da obra deixou relevos que sugerem pregas e rugas como se fosse pele, e na utilização de areias e terras várias que, ao sedimentarem, fazem alusão à rocha e à pedra, ou seja, ao mineral, ao geológico. Trata-se portanto duma criação plástica livre duma obra antiga que já por si é alegoria.
Outros elementos que se pretenderam pôr em jogo foram o 'cheio' e o 'vazio', o 'leve' e o 'pesado', o 'sólido' e 'gasoso', o 'maciço' e o 'oco', o 'duro' e o 'flexível', o 'terreno' e o 'aéreo'...
Deste modo, a obra enquanto símbolo do ovo cosmogónico é um trabalho que, enquanto tal, aponta para a cosmovisão onde radica o sentido da envolvência do mundo como 'meio ambiente' mais "global" que poderemos considerar.
De certa maneira este símbolo representa algo no qual vivemos e habita em nós. Daí que nessa "pedra-ovo" ou espaço vital habite um "homem-pássaro", o qual, por sua vez, protege na sua grande "mão-asa" um outro ovo ou pedra.
Se a obra é inspirada num objecto arqueológico, isso vai ao encontro da perspectiva inter-cultural, bem como transtemporal do diálogo dos mitos e da quebra de fronteiras rígidas entre leituras científicas e míticas. Basta lembrar que o símbolo do 'ovo' nas cosmogonias compreende múltiplas culturas e mitos. Desde a arte pré-histórica das cavernas com seu simbolismo da interioridade da 'terra-mater' ancestral, passando pelos mitos antiquíssimos órficos, pelos continentes, oceanos, até à teoria do "Big-Bang" nos nossos dias, que, segundo alguns tem analogias com esse arquétipo.
Assim, pretende-se não só uma ecologia do nosso tempo que é bem precisa, mas também uma ecologia do tempo e dos tempos, nos quais o humano habita e deseja habitar. Um espaço que desejamos recriar como a grande casa (do grego 'oikos', donde deriva 'eco-logia') que todos habitamos e protegemos na enigmática comunicação interior/exterior.



*Texto apresentado na instalação em Leiria

Pequena nota para o visitante da Instalação:
É favor tocar
Qualquer pessoa pode tocar na escultura, passar-lhe a mão sentindo a sua textura. balouçá-la levemente e espreitar para o seu interior, iluminado por uma lâmpada laranja, através de alguns orifícios.

Luís de Barreiros Tavares

2002




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